Dra. Estela Giordani
A maioria dos pais afirmam que um dos momentos mais difíceis da rotina com seus filhos é o da educação alimentar. Mas por que? Como passar pelas refeições sem grandes sofrimentos?
Muitos pais e mães me procuram para tratar da educação alimentar dos filhos. Isso porque é comum algumas famílias encontrarem dificuldades de fazer os filhos comerem nas horas certas das refeições.
No entanto, muito mais do que falar sobre alimentação, precisamos entender a interioridade da criança. Mas qual a relação entre a alimentação e a interioridade da criança?
Entendendo um pouco mais sobre a educação alimentar
Todo ser humano possui dentro de si algo que é próprio seu, um espaço onde pensamos aquilo que nós desejamos. Um espaço onde eu digo o que eu quero e o que eu não quero, o que gosto e o que não gosto.
Seu filho também tem esse espaço que é só dele, e é nele que há a possibilidade de decidir todas as coisas. Inclusive de decidir quem ele é, que caminho ele pode tomar.
E por isso, nós, que somos adultos, na relação com a criança, aos poucos devemos começar a educa-la a procurar descobrir o que seu próprio corpo está dizendo, o que ele está querendo que ela entenda.
Se, por exemplo, vamos comer, devemos experimentar o alimento e perceber o que este alimento está me dizendo. Meu corpo está dizendo “me agrada” ou “me desagrada”? E isso também diz respeito à quantidade e ao tipo de alimento que a criança consome.
Certo dia eu estava em um aeroporto na sala de embarque e vi um pai com seus filhos. Uma menina, que deveria ter aproximadamente, sete ou oito anos e já era bem gordinha, e um menino, que deveria ter uns três ou quatro anos.
O menino estava comendo um pacotinho de biscoito, mas não conseguiu comer tudo. A menina já tinha comido um sanduíche, aqueles duplos, que era bem grande para ela e provavelmente já deveria ter saciado a sua fome.
E, surpreendentemente, o pai, pegou o pacotinho de biscoito do menino e entregou para a filha, dizendo o seguinte: “Termina de comer filha”.
Essa é uma atitude que compromete muito a educação alimentar das crianças. Muitas vezes os adultos acabam fazendo sem se dar conta, na maior ingenuidade, no entanto é muito ruim para as crianças.
O que eu quero deixar claro, quando eu me referi que precisamos entender a interioridade da criança para fazer a educação alimentar é justamente isso. Não podemos incentivar a criança a consumir mais alimentos do que necessita, pois muitas vezes ela já está saciada.
É preciso ensiná-la a entender o seu organismo. Ela deve saber que quando um alimento a deixa saciada, ela não precisa comer mais alguma coisa.
Você sabia que quando incentivamos que a criança coma mais “para terminar de comer o que sobrou”, estamos gerando uma ansiedade para conseguir concluir tudo, ou uma proibição de que não pode deixar comida sobrando e tem que comer tudo?
Quando fazemos isso começamos a criar uma série de critérios externos e não auxiliamos a criança a aprender, a utilizar a linguagem que ela tem dentro dela, o que o mundo interior dela está dizendo.


